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Julia Campanucci

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Aceite a generosidade que lhe dou



Ser amado incomoda. Ser amado é uma droga. Ser amado é uma tortura. Ser amado é o gesto mais árduo da vida do casal - mais difícil do que amar. 

Fica-se com a sensação de que temos que devolver o que recebemos. Não queremos nem abrir a porta para não precisar retornar a visita. Odiamos surpresas que nos põem em falta. Receamos gentilezas que impõem nosso atraso. Detestamos agrados que não foram imaginados antes. 

Excesso de amor intimida, excesso de amor oprime, excesso de amor gera uma competição invisível. 

Somos avarentos por prevenção. 

Somos avarentos para dominar o que sentimos. 

Somos avarentos para evitar a dependência. 

Somos avarentos para não sofrer mais adiante. 

Somos avarentos para não ter que se explicar.

Somos avarentos para não se entregar ao outro.

A avareza é confortável. E previsível

Se alguém dá um presente, surge a miragem de recompensar imediatamente. Pela ideia equivocada de que todo o presente é carente, de que todo o presente pede um irmão gêmeo, de que todo presente reivindica um par para dançar. 

Mas não existe essa obrigação, ela é inventada, a reciprocidade não é automática ou necessária.

O amor é uma corrente que vai e volta, uma eletricidade absolutamente anônima. Assim como cuidado não é favor, tampouco a ternura é uma soma. 

Infelizmente não pretendemos amar para não se comprometer, para não assumir a responsabilidade da troca e do envolvimento. 

A raiz da dúvida é que julgamos não merecer nada, e nos incomoda a generosidade alheia. Mais do que incomoda: parece que é uma cilada, um fiado com juros. 

Preferimos o amor ogro ao amor generoso. 

O problema é que a gente raciocina que seremos cobrados depois, que aquilo que está sendo oferecido não é nosso, é emprestado. Porém, amor não é empréstimo, e sim doação. Amor não é aluguel, não é viver de favor, e sim residência fixa. 

O medo da cobrança estraga o amor, forma paranoia, alimenta desconfianças.

A alegria vira pressão que vira tristeza. E qualquer acontecimento alegre será impregnado de um suspense aflitivo da conta. 

O contentamento não é festejado, logo se torna um fardo, uma preocupação. 

O presente deixa de existir. O que se vê é a angústia da fatura em aberto. 

Pensamos que seremos enganados, traídos. Só esperamos as piores notícias. 

No amor, é necessário ser ingênuo, esperar a boa notícia sempre. 

A boa notícia, sempre. 

Mesmo que ela nunca venha.


Fabrício Carpinejar


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