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Sem mais,
Julia Campanucci

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Pequena Palavra


E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. 
Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste,
 talvez tenha sido melhor assim, 
uma separação como às vezes acontece em 
um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, 
procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão.
 É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram
 se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais.
 Eles não se despediram, a vida é que os despediu, 
cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, 
e também uma lembrança boa; 
que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades;
 nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz 
um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; 
e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.


(...)


Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver;
 entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? 
Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; 
o silêncio torna tudo menos penoso; 
lembremos apenas as coisas douradas e 
digamos apenas a pequena palavra: 
adeus. 

A pequena palavra que se alonga 
como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.



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