Uma história de: Hugo Rodrigues
Ela é solteira. Não sozinha. Ela pinta as unhas de
vermelho quando quer. Mas, também, sabe
deixar as unhas em cacos quando dá vontade.
Esbanja esquisitices ao falar dos seriados prediletos.
E se cala quando o assunto é sobre o porquê dela
não ter namorado.
Ela usa vestidos de tricô, daqueles clichês para
tomar chá quando o tempo é frio. E bebe cervejas
em canecas, como homens pré-históricos. Ela ri com as
piadas de humor negro. Mas, também, se derrete mais
do que picolé em frigideira quando recebe um SMS
romântico de madrugada. Mas por que não namora?
Ela acorda, toma chocolate quente, se arruma e vai trabalhar.
Prefere usar preto. Mas desbanca qualquer havaiana
bonita quando inova em alguma vestimenta cheia de
flores coloridas. Ela é linda e desconversa. Fala do tempo,
do futebol, da novela, da mãe, da crise do Paraguai e do
Joseph Gordon-Levitt. Mas por que tu não namoras?
Quando o assunto é sexo, ela fala menos do que escuta.
Escuta com os ouvidos, com os olhos, com a boca e
com os pêlos da coxa. Transa menos do que deseja.
E sabe esconder alguma aspirante a Sônia Braga dentro
daquele decote comportado. Ela curte os Beatles, os
Novos Baianos, Caetano e o Cícero. E fala que eu tenho
péssimo tom de voz. Lê Caio, Keroauc, Fante e Gabito.
Mas diz que, também, gosta das minhas histórias.
É estranha, também. Assumo. Corta o cabelo de acordo
com as fases da lua e gosta de comer macarrão com
feijão. Gosta de umas bandas que ninguém conhece e
chora com as histórias do Nicholas Sparks. Liga o ar
condicionado porque gosta de dormir sentindo frio e
acaba repousando feito uma esquimó com meias e
edredom. Uma linda esquimó, por sinal. Não sabe usar o
celular. Costuma atender as ligações somente após a quarta
tentativa de chamada. Não, ela não ignora. Ela perde tempo
é procurando o celular na bolsa, debaixo da cama ou na pia
do banheiro. Mas, vez em quando, ela sabe ignorar
também. Não sabe dançar. Recusa os convites,
mas adora ser convidada. Odeia batom e gosta de
brincos de pena.
brincos de pena.
Mas por que ninguém conseguiu ultrapassar
esse muro de Berlim que você ergueu no teu peito?
Ela desconversa.
esse muro de Berlim que você ergueu no teu peito?
Ela desconversa.
Ri de canto de boca e me pergunta se eu fumo tentando
desviar o assunto pra longe. Eu insisto. Falo coisas demodês
e jogo no ar o fato de que eu a acho perfeita. Ela empina
o nariz o fino, me lança seus olhos verdes escuro e
ajeita-se sobre a mesa.
o nariz o fino, me lança seus olhos verdes escuro e
ajeita-se sobre a mesa.
Muda o tom e me fala: “Porque eu não quero”. E eu rio sem
graça da minha maldita ideia de achar que todo mundo
quer ter alguém para dividir os brownies.
Nenhum comentário:
Postar um comentário